Wednesday, July 31, 2013

Arriscar é: inacabado

A arte do inacabado
É-nos dito e repetido que o tempo bem aproveitado é um contínuo, tendencialmente ininterrupto, que devemos esticar e levar ao limite. A maioria de nós vive nessa linha de fronteira, em esforçada e insatisfeita cadência, a desejar, no fundo, que a vida seja o que ela não é: que as horas do dia sejam mais e maiores, que a noite não adormeça nunca, que os fins de semana cheguem para salvar-nos a face diante de tudo o que fica adiado.Quantas vezes damos por nós a concordar automaticamente com o lugar comum: “precisava que o dia tivesse quarenta e oito horas” ou “precisava de meses de quarenta dias”. Desconfio que não seja isso exatamente o que precisamos. Bastaria, aliás, reparar nos efeitos colaterais das nossas vidas sobreocupadas, no que fica para trás, no que deixámos por dizer ou acompanhar.Sem darmos bem conta, à medida que os picos de atividade se agigantam, as nossas casas vão-se assemelhando a casas devolutas, esvaziadas de verdadeira presença; a língua que falamos torna-se incompreensível como uma língua sem falantes no mundo mais próximo; e mesmo que habitemos a mesma geografia e as mesmas relações parece que, de repente, isso deixou de ser para nós uma pátria e tornou-se uma espécie de terra de ninguém.O ponto de sabedoria é aceitar que o tempo não estica, que ele é incrivelmente breve e, que por isso, temos de vivê-lo com o equilíbrio possível. Não nos podemos iludir com a lógica das compensações: que o tempo que roubamos, por exemplo, às pessoas que amamos procuraremos devolvê-lo de outra maneira, organizando um programa ou comprando-lhes isto e aquilo; ou que o que retiramos ao repouso e à contemplação vamos tentar compensar numas férias extravagantes.A gestão do tempo é uma aprendizagem que, como indivíduos e como sociedade, precisamos fazer. Nisto do tempo, por vezes é mais importante saber acabar do que começar, e mais vital suspender do que continuar.Lembro-me que durante anos, numa casa em que vivi, ouvia diariamente o varredor público limpar as folhas caídas do grande lódão, por baixo da minha janela. Ele chegava por volta da 1 da manhã, mais coisa menos coisa. A música da sua vassoura era uma chamada a concluir e a recolher-me. Também eu precisava varrer a minha dispersão e apagar a luz até ao dia seguinte.Mas até esse exercício de interromper um trabalho para passar ao repouso não nos é fácil, pelo menos em certa idade. Isso implica, não raro, um exercício de desprendimento e de pobreza. Aceitar que não atingimos todos os objetivos que nos tínhamos proposto. Aceitar que aquilo aonde chegamos é ainda uma versão provisória, inacabada, cheia de imperfeições. Aceitar que nos faltam as forças, que há uma frescura de pensamento que não obtemos mecanicamente pela mera insistência. Aceitar porventura que amanhã teremos de recomeçar do zero e pela enésima vez.Creio que o momento de viragem acontece quando olhamos de outra forma para o inacabado, não apenas como indicador ou sintoma de carência, mas condição inescusável do próprio ser. Ser é habitar, em criativa continuação, o seu próprio inacabado e o do mundo. O inacabado liga-se, é verdade, com o vocabulário da vulnerabilidade, mas também (e eu diria, sobretudo) com a experiência de reversibilidade e de reciprocidade.A vida de cada um de nós não se basta a si mesma: precisaremos sempre do olhar do outro, que é um olhar o outro, que nos mira de um outro ângulo, com uma outra perspetiva e outro humor. A vida só por intermitências se resolve individualmente, pois o seu sentido só se alcança na partilha e no dom.
José Tolentino Mendonça
In Expresso, 20.7.2013 




Tuesday, July 30, 2013

Arriscar é: por isto ou por aquilo

Parece que anda tudo a empatar.
Pega-se nisto ou naquilo só para desestabilizar.
Não é para fazer, é para chatear.
Tantos comentadores !!!É assim no emprego, na família, na vizinhança, na politica...
Mas o que é que se passa?
Cansaço, palermice, burrice, mesquinhez...
Afinal onde se quer chegar com tudo isto?
Parece que não querem viver nem deixar viver.
Apetece fazer reset e começar de novo.
Se não querem deixem os outros viver e viver sossegados.
Não basta não viverem como ainda o querem impor aos outros.

Thursday, July 25, 2013

Arriscar é: ginástica financeira

Imaginem que um casal chega a um hotel da vossa terra e pergunta quanto custa um quarto para o fim-de-semana.
O recepcionista responde: 100 euros pelos 2 dias.
Muito bem. Responde o cavalheiro. Mas gostaríamos de conhecer as vossas instalações antes de reservarmos. O quarto, a piscina, o restaurante...
- Não há problema, responde o recepcionista. Os Srs. deixam uma caução de 100 euros, levam a chave e podem visitar as nossas instalações à vontade.
Se não gostarem nós devolvemos o dinheiro.
- Combinado, disse o casal.
Deixaram os 100 euros e foram visitar o hotel.

Acontece que:
O recepcionista devia 100 euros à mercearia do lado e foi a correr pagar a dívida.
O merceeiro devia 100 euros na sapataria e foi a correr pagar a dívida.
O sapateiro devia 100 euros no talho e foi a correr pagar a dívida.
O talhante devia 100 euros à agência de viagens e foi a correr pagar a dívida.
O dono da agência devia 100 euros ao hotel e foi a correr pagar a dívida…

Nisto o casal completou a visita e informou que afinal não vai ficar no hotel.
- Não há problema. Tal como lhe disse, aqui tem o seu dinheiro, devolveu o recepcionista.

Conclusão:
Toda a gente pagou a quem devia... sem dinheiro nenhum.
O casal levou os 100 euros que pagaram todas as 5 dívidas no valor total de 500 euros.
Ponham aqui os olhos e percebam que todo o sistema financeiro pode ser uma fraude.
Zero euros pagaram 500 em dívida.
E podíamos continuar indefinidamente.

Como disse Milton Friedman:
"Não perguntem onde está o dinheiro porque ele não está em lado nenhum!"

Arriscar é: suspender


Entramos num pequeno café com um amigo meu e fizemos o nosso pedido. 

Enquanto estamos a aproximar-nos da nossa mesa,  duas pessoas chegam e vão para o balcão:

 - "Cinco cafés, por favor.   Dois deles para nós e três suspensos."

 Eles pagaram a sua conta, pegaram em dois e saíram.

 Perguntei ao meu amigo:

 - "O que são esses cafés suspensos?"

 O meu amigo respondeu-me:

 - "Espera e vais ver."

 

Algumas pessoas mais entraram.

Duas meninas pediram um café cada, pagaram e foram embora.

A ordem seguinte foi para sete cafés e foi feita por três advogados - três para eles e quatro "suspensos".

 Enquanto eu ainda me pergunto qual é o significado dos "suspensos" eles saem. 

 De repente, um homem vestido com roupas gastas que parece um mendigo chega  e pede cordialmente:

 - "Você tem um café suspenso?"

 

  Resumindo, as pessoas pagam com antecedência um café que servirá para quem não pode pagar uma bebida quente.

  Esta tradição começou em Nápoles, mas espalhou-se por todo o mundo e nalguns lugares é possível encomendar não só cafés "suspensos" mas também uma sandes ou refeição inteira.

 

  Partilhem e divulguem esta ideia.    Pode ser que também pegue entre nós...

 

Wednesday, July 24, 2013

Arriscar é: ter vontade

A vontade também cresce ou diminui.
Muitas vezes quanto mais fazemos algo mais vontade temos.
Quanto menos fazemos, menos nos "apetece", como hoje se diz.
Passa-se com coisas como a leitura, o exerício físico, o estar com os outros...
Hoje lembro apenas estas.
Apesar de a vontade nestes campos se perder ela pode recuperar-se.
Dá é mais trabalho.
Daí que o melhor é não deixar que a vontade aqui desça muito.
Recomeçar é custoso, mas ainda assim, vale a pena.

Tuesday, July 23, 2013

Arriscar é: celebrar

Hoje pouco se encontram as pessoas para além dos funerais.
A este momento não se escapa. Muitos nos revemos pelos velórios.
Se não houver esforço e decisão para celebrar tantos outros momentos da vida, não nos encontramos senão nos velórios... até ao nosso!

Tuesday, July 16, 2013

Arriscar é: nadar

Chegar ao fim sem nada...
Eis um bom ideal.
Assim se passou com Jesus.
O despojamentoé um ato de profunda liberdade.
Ainda para mais quando ele contribui para que os outros tenham e vivam.
Jesus deu a Vida para que nós a tenhamos.

Thursday, July 11, 2013

Arriscar é: consertar

«Um casal de 30 anos pergunta a um outro de 80 casados há mais de 50 como permaneceram juntos tanto tempo. Ao que eles responderam: " Sabe? É q nós somos do tempo em que nada se deitava fora. Apenas se concertava"»
(anónimo)

Friday, July 05, 2013

Arriscar é: visitar

A avó celebra o aniversário dos seus 98 anos. A sua família reserva todo um restaurante e, quando a festa está em pleno um dos seus netos, Armindo (50 anos) pergunta-lhe :
- Avó, desculpa abordar-te o assunto, mas devido à tua
idade, talvez fosse altura de te exprimires sobre as tuas exéquias.
Todas as discussões pararam e ficam suspensas dos lábios de Maria.
-Eu quero ser cremada, diz a Maria, e acrescenta; e também desejo que as minhas cinzas sejam dispersas no Parque de estacionamento do “Supermercado Continente”.
Espanto geral!
-Mas avó porquê o parque do Supermercado ?
-Não preferes um lugar mais propício ?
-Não! prefiro o parque de estacionamento porque assim terei a certeza que vocês virão visitar-me pelo menos uma vez por semana…

Monday, July 01, 2013

Arriscar é: vigarizar

Origem do conto do Vigário
Vivia há já não poucos anos, algures, num concelho do Ribatejo, um pequeno lavrador, e negociante de gado, chamado Manuel Peres Vigário.
Da sua qualidade, como diriam os psicólogos práticos, falará o bastante a circunstância que dá princípio a esta narrativa. Chegou uma vez ao pé dele certo fabricante ilegal de notas falsas, e disse-lhe: «Sr. Vigário, tenho aqui umas notazinhas de cem mil réis que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil réis cada uma.» «Deixa ver», disse o Vigário; e depois, reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as: «Para que quero eu isso?», disse; «isso nem a cegos se passa.» O outro, porém, insistiu; Vigário cedeu um pouco regateando; por fim fez-se negócio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.
Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a uns irmãos negociantes de gado como ele a diferença de uma conta, no valor certo de um conto de réis. No primeiro dia da feira, em a qual se deveria efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna escura da localidade, quando surgiu pela porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles, e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de vária conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha que pagar-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se, se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil réis. Eles disseram que não, e, como a carteira nesse momento se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem. Houve então a troca de outro olhar.
O Manuel Peres, com lentidão, contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem se perdeu em olhar mais para elas. O vigário continuou a conversa, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho. Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria ter um recibo. Não era uso, mas nenhum dos irmãos fez questão. Ditava ele o recibo, disse, pois queria as coisas todas certas. E ditou o recibo – um recibo de bêbedo, redundante e absurdo: de como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, e


«estando nós a jantar (e por ali fora com toda a prolixidade frouxa do bêbedo...), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, em pagamento de não sei quê, a quantia de um conto de réis em notas de cinquenta mil réis. O recibo foi datado, foi selado, foi assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e daí a um tempo foi-se embora.
Quando, no próprio dia ou no outro, houve ocasião de se trocar a primeira nota, o que ia a recebê-la devolveu-a logo, por escarradamente falsa, e o mesmo fez à segunda e à terceira... E os irmãos, olhando então verdadeiramente para as notas, viram que nem a cegos se poderiam passar.
Queixaram-se à polícia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira providencial que o havia colhido no dia do pagamento. Sem isso, disse, talvez, embora inocente, estivesse perdido.
Se não fosse ela, explicou, nem pediria recibo, nem com certeza o pediria como aquele que tinha, e apresentou, assinado pelos dois irmãos, e que provava bem que tinha feito o pagamento em notas de cinquenta mil réis. «E se eu tivesse pago em notas de cem», rematou o Vigário «nem eu estava tão bêbedo que pagasse vinte, como estes senhores dizem que têm, nem muito menos eles, que são homens honrados, mas receberiam.» E, como era de justiça foi mandado em paz.
O caso, porém, não pôde ficar secreto; pouco a pouco se espalhou. E a história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou, abreviada, para a imortalidade quotidiana, esquecida já da sua origem.
Os imperfeitíssimos imitadores, pessoais como políticos, do mestre ribatejano nunca chegaram, que eu saiba, a qualquer simulacro digno do estratagema exemplar. Por isso é com ternura que relembro o feito deste grande português, e me figuro, em devaneio, que, se há um céu para os hábeis, como constou que o havia para os bons, ali lhe não deve ter faltado o acolhimento dos próprios grandes mestres da Realidade – nem um leve brilho de olhos de Macchiavelli ou Guicciardini, nem um sorriso momentâneo de George Savile, Marquês de Halifax.
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Contado por Fernando Pessoa.
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(publicado pela primeira vez no diário Sol, Lisboa, ano I, nº 1, de 30/10/1926, com o título de «Um Grande Português». Foi publicado depois no Notícias Ilustrado, 2ª série, Lisboa, 18/08/1929, com o título de «A Origem do Conto do Vigário».

Arriscar é: riqueza

Fabuloso texto atribuído a Catón, jornalista mexicano.


“Tenho a intenção de processar a revista "Fortune", porque fui vítima de uma omissão inexplicável. Ela publicou uma lista dos homens mais ricos do mundo, e nesta lista eu não apareço. Aparecem: o sultão de Brunei, os herdeiros de Sam Walton e Mori Takichiro.
Incluem personalidades como a rainha Elizabeth da Inglaterra, Niarkos Stavros, e os mexicanos Carlos Slim e Emilio Azcarraga.
Mas eu não sou mencionado na revista.E eu sou um homem rico, imensamente rico. Como não?  vou mostrar a vocês:

Eu tenho vida, que eu recebi não sei porquê, e saúde, que conservo  não sei como.
Eu tenho uma família, esposa adorável, que ao me entregar sua vida me deu o melhor para a minha; filhos maravilhosos, dos quais só recebi felicidades; e netos com os quais pratico uma nova e boa paternidade.
Eu tenho irmãos que são como meus amigos, e amigos que são como meus irmãos.Tenho pessoas que sinceramente me amam, apesar dos meus defeitos, e a quem amo apesar dos meus defeitos.
Tenho quatro leitores a cada dia para agradecer-lhes porque eles lêem o que eu mal escrevo.
Eu tenho uma casa, e nela muitos livros (minha esposa iria dizer que tenho muitos livros e entre eles uma casa).
Eu tenho um pouco do mundo na forma de um jardim, que todo ano me dá maçãs e que iria reduzir ainda mais a presença de Adão e Eva no Paraíso.
Eu tenho um cachorro que não vai dormir até que eu chegue, e que me recebe como se eu fosse o dono dos céus e da terra.
Eu tenho olhos que vêem e ouvidos para ouvir, pés para andar e mãos que acariciam; cérebro que pensa coisas que já ocorreram a outros, mas que para mim não haviam ocorrido nunca.
Eu sou a herança comum dos homens: alegrias para apreciá-las e compaixão para irmanar-me aos irmãos que estão sofrendo.
E eu tenho fé em Deus que vale para mim amor infinito.
Pode haver riquezas maiores do que a minha?
Por que, então, a revista "Fortune" não me colocou na lista dos homens mais ricos do planeta? "

E você, como se considera? Rico ou pobre?

 Há pessoas pobres, mas tão pobres, que a única coisa que possuem é ... DINHEIRO

Arriscar é: provar o amor

Se o amor não precisasse de ser provado Jesus não teria morrido na Cruz. Temos mesmo dar provas do nosso amor!