Thursday, June 27, 2013

Arriscar é: navegar com Sto António

N'aquela tarde calma. Fora a pesca abundante,
Sant’António do seu nicho, assiste vigilante
À faina. Os pescadores largam já d’amarra
E, como o mar manso,lá vão de proa à barra
Alegremente em fila, o porto demandando.
O leme vai na orça, velozes vão passando
Na linha da “ carreira “. Em frente da capela;
O Santo vai contando, um por um, vela por vela.

O sol é posto já. Traiçoeiro a refrescar
O vento aflige o Santo e atormenta o mar.
Toldou-se o céu também, logo a terra escureceu
E no regaço o Santo Jesus adormeceu.
Já nas ondas envergam os novelos d’espuma
Mas, na conta das velas, inda falta uma!
Nos lábios d’António, trémulos d’amargura
Alguma praga ao mar, entre as preces se mistura.

Um ponto branco, ao sul, lá longe entre a procela,
Traz rumo aproado, à alvura da capela.
O bom do Santo ao ver, esse asa de gaivota
Que, tão audaz procura. A linha da derrota,
Empalidece, e treme, temendo-lhe o destino.
Não se atreve porém a acordar o seu Menino.
E murmura: “Jesus, Senhor! A vaga é tão alta”
“E aquela vela é, a mais pequena que me falta”

Enquanto Dura a luta, entre o mar e a vela
António nota já, não ser deserta a capela.
Uma pobre mulher, nos degraus ajoelhada
Cinge contra o seio, uma cabecita dourada;
No seu ardente olhar e nos olhos da criança,
O ponto branco brilha, como um farol d’esperança
E o pescador afoito, aproa sempre a vela
Ao vulto da mulher, à brancura da capela

O mar redobra a fúria, é um leão rugindo
E tranquilo Jesus, no regaço vai dormindo;
Mas avistando o pano, roto já p’la rajada
A cabecita d’ouro exclama apavorada:
“Ó mãe? Ó minha mãe?”
“É o meu pai, quelá vem?!
”N’isto; o Menino acorda e mui mal humorado,
O aio santo increpa, de sobrolho carregado;
“O que foi isto António?” – “Quem foi que se atreveu?
”O Santo aponta a medo, a vela, o mar, o céu.

Nos olhos da mulher, onde a vela é agravada
Uma lágrima... Uma pérola pendurada.
Desvairado ao vê-la, implora Sant’António:
“Senhor... fazei bonança... O mar é um demónio... “
Jesus serenamente, do nicho então desceu,
Com uma mãozita em concha, a pérola colheu,
O seu rosado braço, enérgico balança
E às ondas infernais, a humilde jóia lança.

Depois... sorriu ao Santo com divino afago
E no mar, defronte da capela, fez-se um “lago”
.

Um Pescador
(o autor destes versos é desconhecido, sendo atribuído a um pescador da época)

Friday, June 21, 2013

Arriscar é: Passear com Sto António

"Saira Santo Antonio do convento,
A dar o seu passeio costumado
E a decorar, num tom rezado e lento,
Um candido sermão sobre o pecado.


Andando, andando sempre, repetia
O divino sermão piedoso e brando,
E nem notou que a tarde esmorecia,
Que vinha a noite placida baixando...


E andando, andando, viu-se num outeiro,
Com arvores e casas espalhadas,
Que ficava distante do mosteiro
Uma legua das fartas, das puxadas.


Surprehendido por se vêr tão longe,
E fraco por haver andado tanto,
Sentou-se a descançar o bom do monge,
Com a resignação de quem é santo...


O luar, um luar clarissimo nasceu.
Num raio dessa linda claridade
O Menino Jesus baixou do céu,
Poz-se a brincar com o capuz do frade.


Perto, uma bica d'agua murmurante
Juntava o seu murmurio ao dos pinhaes.
Os rouxinoes ouviam-se distante.
O luar, mais alto, illuminava mais.


De braço dado, para a fonte, vinha
Um par de noivos todo satisfeito.
Ella trazia ao hombro a cantarinha,
Elle trazia... o coração no peito.


Sem suspeitarem de que alguem os visse,
Trocaram beijos ao luar tranquillo.
O menino, porém, ouviu e disse:
--Oh Frei Antonio, o que foi aquillo?...


O santo, erguendo a manga de burel
Para tapar o noivo e a namorada,
Mentiu numa voz doce como o mel:
--Não sei que fosse. Eu cá não ouvi nada...


Uma risada limpida, sonora,
Vibrou com timbres d'oiro no caminho.
--Ouviste, Frei Antonio? Ouviste agora?
--Ouvi, Senhor, ouvi. É um passarinho...


--Tu não estás com a cabeça boa...
Um passarinho a cantar assim!...
E o pobre Santo Antonio de Lisboa
Calou-se embaraçado, mas por fim,


Córado como as véstes dos cardeaes,
Achou esta sahida redemptora:
--Se o Menino Jesus pregunta mais,
...Queixo-me á sua mãe, Nossa Senhora!


Voltando-lhe a carinha contra a luz
E contra aquelle amôr sem casamento,
Pegou-lhe ao collo e acrescentou: Jesus,
São horas...
      --E abalaram p'r'ó convento".


Augusto Gil

Arriscar é: virtude sólida

"Gloriamo-nos nas nossas tribulações porque sabemos que a tribulação produz a constância, a constância a virtude sólida, a virtude sólida a esperança".
S. Paulo aos Romanos

Arriscar é: provar o amor

Se o amor não precisasse de ser provado Jesus não teria morrido na Cruz. Temos mesmo dar provas do nosso amor!